segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O apartamento que era tão pequeno...

... não acaba mais (8)




Nem sempre a favor da maré, a menina que não tem nada detesta sextas-feira.
É como um pequeno pedaço do inferno cada sexta a noite, onde antigamente ela se escondia do mundo e encontrava seu lugar, agora, desolada, sente que não existe lugar para ela.
Talvez exista, longe das grades da sua prisão invisível.
O final de semana passa e ela só deseja caminhar pelas ruas da cidade de mãos dadas com o que ela sempre foi, ou com quem ela sempre pode ser.

A taça de veneno cai ao chão, se quebra, o líquido espalha pelo tapete e deixa uma mancha amarela que ela sabe que não sairá mais.
Cansada, joga sua bolsa na cama e se pergunta porque nem morrer deseja mais, essa garota que tem tudo, mas sabe que não tem nada.
Não é por ela ou por alguém, mas simplesmente por não ter vontade... O veneno continua manchando o tapete, mas ela só continua ali, parada, olhando para o teto.

Recobra a consciência depois de um pesadelo, desejava ter continuado no sonho, a realidade não é excitante ou destrutiva, é apenas real.
Procura alguém, os braços, as pernas, o corpo, o sexo, o beijo. Encontra a cama vazia, repleta de lembranças e bichos de pelúcia que as vezes parecem falar.
Nem livros, nem filmes. Nada faz com que ela tenha alguma coisa, que seja vontade de viver.
Perdedora.
Perdeu os sonhos, a luta, a vontade, e então, como que por mágica, passou a viver como os outros, preenchendo um eterno vazio das mentiras vazias, de copos de bebidas vazias, de sonhos vazios.
Vazio de tudo, vazio dela. Vazio de amor.

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