segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Desfiado

Ontem à noite eu cometi um erro grave, daqueles que você confessa baixinho para que não te olhem com desprezo ou raiva. Um erro triste, cheio de mágoas, de lembranças e de vontade de voltar atrás. Um erro severo, que trouxe a luz todos os outros que eu quis esconder na sombra do meu orgulho. Abri uma caixa de pandora repleta de recordações de vidas passadas, que já não são minhas. E eu ri de piadas que já não tem graça e chorei algumas lágrimas de saudade... E desejei que alguns que se foram estivessem aqui. Aquela incrível montanha russa que somente a adolescência te permite, de sentimento e impulsos justificáveis pela fase, mas que no drama pessoal se tornavam fatal realidade. Eu queria voltar. Quanta saudade e quanto querer o passado me deixou e quantos erros bobos eu já não cometi que se tornaram irremediáveis. E a falta do perdão em meu coração é a falta do perdão no coração daqueles que eu tanto sinto saudade. Queria dividir minhas conquistas e meus medos novamente com a garota loira que sempre esteve ao meu lado nas janelas de print do msn, mas que se foi assim tão de repente, sem querer explicações, sem sequer querer ficar. Queria só mais uma conversa com piadas ácidas com o vizinho da melhor amiga, que me fez viva, me fez grande, me fez forte. Que via além do simples, das palavras, da insignificância Queria me desculpar, dizer que foi necessário, que naquele momento eu não tinha saída e nem escolha e nem pensava. Queria o moço das caminhadas no parque, trocar mensagens sem sentido e ter alguém com quem contar, alguém pra visitar e para planejar filmes, ouvir músicas e crescer junto. Queria sentir saudade sem sentir falta e que o passado não fosse tão determinante no futuro, que de madrugada eu ainda tivesse apoio, que o Natal ainda fosse especial e que o seriado que nunca se encerra fosse um elo eterno. Queria que eles, mais do que ninguém, lessem esse texto que não fala apenas sobre os meus amigos, mas dos amigos que perdemos para longe nessa vida. Das rotinas que deixamos, dos erros que cometemos e que desejamos com todo o coração que alguém nos desculpe para vivermos em paz. Quais perguntas nunca foram feitas, qual foi um instante exato antes da mudança? E como olhar para trás se a vida só nos permite andar para frente? Como deixar os olhos marejados se no dia seguinte o sorriso deve consumir meu rosto como uma tatuagem? Porque na sua colação eu estava e na sua formatura também, e quando você começou a trabalhar eu te dei os parabéns e no seu aniversário eu também fui, e eu sempre estava lá, eu sempre torci por você. E quando você terminou eu te ajudei, e quando você engravidou eu fui uma das primeiras a saber e quando seu filho nasceu eu também estava lá. E quando você decidiu ficar eu apoiei, e quando você aprendeu a dirigir eu saí com você, e quando você começou a namorar e comprou seu apartamento eu te dei os parabéns. E eu queria vocês na minha formatura, contar do meu novo emprego, reclamar da minha vida monótona, perguntar se concordam ou não que eu mude de cidade. Saber se sentem a minha falta também e se as vezes pensam que as coisas poderiam ter sido diferentes, talvez melhores, talvez ainda juntos. Essas não são palavras para um blog de crônicas, essas são palavras para um e-mail de perdão, de justificativa ou de dúvida: o que foi que nos aconteceu, será que você poderia deixar para lá? E eu sei que vocês nunca chegarão a ler, porque não existem meios que nos conectam mais. Rompemos todos os fios.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Cacos de Vidro.

Eu não suporto a incerteza, a dúvida do possível e do impossível. O presente incerto, o passado mentiroso, o futuro se desfazendo. Eu não suporto a dúvida. Se vamos ficar juntos, se vamos nos separar. Se você me ama, se você me quer bem. Se sente minha falta, se tem vontade de ficar comigo, se sente medo de me perder, se pensa em mim quando vai dormir e quando acorda de manhã, se se pega olhando para o nada imaginando meu sorriso e meu beijo molhado no canto da sua boca. Eu não suporto a insegurança. Se você ainda vai me amar amanhã, se me amou ontem, se algum dia me amou. Se ainda faz planos, se me ve acordando ao seu lado todos os dias para os restos deles, se ainda imagina o rosto de nossa filha ou planeja nossa viagem para Disney. Eu não suporto o passado. E a falta de reportagens de jornal recortadas em forma de plano de futuro, os desenhos rabiscados de meu rosto nos seus cadernos velhos, as ligações na madrugada só pela saudade de uma voz que logo estará ali. Os ursos, as cartas, as músicas. Eu não suporto o medo. Medo de que tudo tenha se acabado, medo de ser mentira ou de não ser mais verdade, medo da distância. Medo de viver uma realidade que não existe e que meus sonhos tornem-se pesadelos dos quais eu não poderei acordar. Eu não suporto amar você. O amor é o sentimento mais traiçoeiro, que me deu tudo e não deixou nada. Se eu nunca tivesse te amado não haveria pelo que sentir saudade, não haveria lembranças a se recordar, nem planos, nem pretérito, nem futuro e nem presente. Se eu nunca tivesse te amado agora eu estaria em outro lugar, com outras pessoas, vivendo uma outra vida. Talvez amando outro alguém, deitada na cama de casal do apartamento dele e não do seu. Ah se eu não tivesse te amado... com todo meu coração e com todo meu ser. Se não tivesse corrido para te encontrar em cada vez que você voltava, ou guardado cada um dos presentes e cartões para reler ao som do silêncio que você sempre deixa quando se vai. Se não tivesse dormido em seus braços, provado seu gosto e vivido seus gostos. Se eu não tivesse viajado ao seu lado, conhecido novos lugares, jantado a luz de velas, te ajudado a escolher roupas, te levado em lugares chatos e legais. Se eu não tivesse sido a primeira a andar no seu primeiro carro, se não tivesse te apresentado meus amigos e conhecido os seus, se não tivesse te incentivado a procurar um emprego melhor. Ah se eu não tivesse feito nada disso. Eu não teria inspiração para escrever. Eu não teria vivido as páginas do meu romance. Eu não teria vivido. E a sua ausência nunca seria sentida, sua presença nunca seria notada. E as lágrimas seriam por motivos diferentes. E os medos seriam por motivos diferentes. Se eu não tivesse te amado eu não seria eu mesma, seria alguém longe dos meus sentimentos e pensamentos. Não sei se seria uma estrela de Hollywood, uma dentista no sul do país ou uma psicóloga em Minas Gerais. Não sei se seria melhor do que sou, mais feliz do que sou, mais triste do que sou, mais eu do que sou. Eu jamais teria caminhado nas praças de uma cidade, pela noite fria dos meses de inverno. Jamais teria entendido como é se sentir completa, plena, infinita. Se eu não tivesse te amado eu jamais teria sido infinita e eu se disso porque só você me faz infinita, só o som da tua voz, seus olhos multicores, seu cheiro adocicado e suas reflexões sobre a vida, sobre a morte, sobre nós. Se nunca tivesse havido o "nós" eu preferiria que não houvesse o eu.
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