Sacomé, a gente vai vivendo dia após dia tentando ser mais leve que o ar, uns bebem o chimarrão ali, outro comem o pão de queijo lá e em sampaulo a vida passa depressa demais para os ponteiros do relógio.
Estereótipos a parte, vive-se um dia de casa vez.
Só que não adianta apenas tentar ser mais leve que o ar, a gravidade, a física, o chão... eles nos dizem que a vida não é assim, que a gente não pode flutuar.
E quando você não sabe o que dizer na hora H, no dia D?
Tentei, confesso.
Passei os últimos quatro meses assim, sorrindo, relevando, entendendo. Quatro meses inteiros de uma aceitação incondicional, de uma racionalização impecável.
Eu sabia sabia o que iria acontecer, o que fazer, o que dizer. Sabia para onde caminhar e, mais ainda, sabia mostrar o caminho.
... eu me enganava dizendo que sabia, como se fizesse realmente sentindo todas as minhas palavras...
Ninguém sabe como dançam as letras e as frases escritas por Deus.
Câncer. Não aguento mais o som que essa palavra tem, o gosto, o cheiro, a baixa luz de corredores de hospitais públicos e de internações de emergência.
Mas é no escuro que o invisível no salta aos olhos.
Existe, então, alguma forma de acender essa maldita luz que se apagou? Existe algo que eu possa fazer para dizer para ela "relaxa mãe, vai ficar tudo bem".
Eu não sei mais se as coisas ficarão bem, eu sabia apenas que elas chegariam até dia 14.
14, meu número favorito. 14-12, meu CD favorito. 14-12, a vida da minha mãe nos sussurros das orações.
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