... Hora da colheita pra quem semeou vento.
Há quem se incomode com a minha solidão. Que não entenda sua necessária presença para que os pensamentos se organizem no silêncio do apartamento mal iluminado. Há quem se ocupe em ser egoísta em suas próprias opiniões e decida decidir pelos outros. Também há aqueles que compartilham a solidão apenas quando ela é nociva, doente e sulfúrica, um veneno que se toma devagar, em doses amargas. Mas eu gosto da minha solidão, porque ela não vem da tristeza ou da alegria, mas na intensa necessidade de nem sempre estar junto e nem sempre estar só; ela existe na equação da média dessas duas medidas. Estou sempre aberta a solidão, tanto minha como de quem não pode lidar com a própria, sendo assim, sempre estou disponível a me expor a radiação nociva e desagradável da ingratidão. A solidão não me assusta por que para mim não se trata apenas de fica só, mas de estar unicamente em minha presença e entender em totalidade de meu confuso e complicado modo de ser. Quem tem medo de solidão é aquele que encara estar só como algo doloroso, daquele que precisa do outro para se completar a qualquer custo e de qualquer forma... Daquele que deixa restos. Restos de pessoas, de sentimentos, de relacionamentos... Dos parasitas. Solidão. O olhar para dentro que reflete o que há lá fora e se o que existe é o vazio do que é superficial, ele salta aos olhos e causa pânico. Faz para qualquer lado em busca de alguma companhia para beber bobagens falando besteiras. Se está tudo bem, então fica tudo bem, até que esteja sozinho novamente e o ciclo desesperado pela cura dos sintomas reinicie, sem nunca sequer entender sua causa. Mas ela sempre volta, a solidão é uma velha senhora que não gosta de ficar sozinha.