A noite passada foi a saideira, mas dessa vez tão literalmente que chega a trazer o amargo da vodka de volta para minha boca.
Mas nem o nítido gosto de alcool pode se comparar ao amargo que se tornou o simples fato de respirar.
A visão turva, a sensação de estar caindo constantemente, o cheiro forte de 5 copos de uma bebida barata na roupa.
Amnésia.
Não existe lembranças de uma noite que não existiu, não existe dor por cenas que não assisti, não existe mágoa porque eu nem estava lá.
Gostaria eu que o alcool fosse a pior droga que uso, mas o que mata minha vitalidade é o motivo pelo qual o gosto amargo se tornou sutilmente doce.
Eu trago comigo os estragos da noite, escondo meu rosto entre escombros da noite.
O passado volta rasgando para me dizer que o antídoto sempre foi veneno, que não há cura para um vazio que nada pode preencher.
Como essa estúpida garota pôde acreditar que haveria felicidade em algum lugar?
E quando se está no fundo do poço não existe mais nada a perder, não se pode perder quando não se tem nada.
Quando se bebe para esquecer, lembrar é uma fatalidade e uma regra. Por mais que se esqueça as reações, o fato sempre estará ali, vivo e diante de seus olhos, destruindo cada pedacinho bom que ainda restou.
E então, agora, basta deixar a maré te levar, te sufocar... te afogar.